Sentimentos e atitudes que impedem meu sucesso - OPEE - 27/03/2018
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El País é um jornal diário espanhol fundado em 1976. |
Bastam
66 dias para mudar um hábito
O
cérebro se reorganiza constantemente se temos interesse em fazê-lo
Patricia Ramírez
Mudar alguns hábitos está ao alcance de todos. Para isso,
são necessários dois ingredientes importantes: escolher uma mudança que seja
coerente com sua escala de valores e treinar até que se torne um hábito. Pouco
além disso.
Nada é
“obrigatoriamente” para sempre, sequer o que se escolheu como hobby, profissão
ou local de residência. A ideia de que podemos ser quem desejamos, praticar
novos esportes, aprender outras culturas, experimentar todas as gastronomias,
ter outros círculos de amigos... transforma uma vida parada em outra, rica em
oportunidades e variedade.
O cérebro é plástico. As pessoas evoluem, desejamos mudar,
crescer interiormente, e estamos capacitados para isso. Ficaram para trás as
teorias sobre a morte dos neurônios e os processos cognitivos degenerativos.
Hoje sabemos que os neurônios geram novas conexões que permitem aprender até o
dia em que morremos. A plasticidade cerebral demonstrou que o cérebro é uma
esponja, moldável, e que continuamente vamos reconfigurando nosso mapa
cerebral. Foi o que disse William James,
um dos pais da psicologia, em 1890, e todos os neuropsicólogos hoje em dia
confirmam as mesmas teorias.
O próprio interesse
por querer mudar de hábitos, a atitude e a motivação, assim como sair da zona
de conforto, convidam o cérebro a uma reorganização constante. Esse processo
está presente nas pessoas desde o nascimento até a morte.
Santiago Ramón y Cajal
Nesta sociedade
impaciente, baseada na cultura do “quero
tudo já e sem esforço”, mudar de hábitos se tornou um suplício. Não porque
seja difícil, mas porque não abrimos espaço suficiente para que se torne um
hábito. Não lhe passou pela cabeça alguma vez que, ao começar uma dieta, as
primeiras semanas são mais difíceis de do que quando já está praticando há
algum tempo? É resultado desse processo. No início seu cérebro lembra o que já
está automatizado, o hábito de
beliscar, comer doce ou não praticar exercício, até que se “educa” e
acaba adquirindo as novas regras e formas de se comportar em relação à comida.
A neurogênese é o
processo pelo qual novos neurônios são gerados. Uma das atividades que retardam
o envelhecimento do cérebro é a atividade física. Sim, não só se deve praticar
exercícios pelos benefícios emocionais, como o bem-estar e a redução da
ansiedade, ou para ficar mais atraente e forte, mas porque seu cérebro se manterá jovem por mais tempo. Um estudo do doutor
Kwok Fai-so, da Universidade de Hong Kong, correlacionou a corrida com a
neurogênese. O exercício ajuda a divisão das células-tronco, que são as que
permitem o surgimento de novas células nervosas.
Existem outras práticas, como a meditação, o tipo de
alimentação e a atividade sexual que também favorecem a criação de novas
células nervosas.
Uma vez que a
reorganização cerebral é estimulada ao longo de toda a vida, não há uma única
etapa em que não possamos aprender algo novo. A idade de aposentadoria não
determina uma queda, nem completar 40 ou 50 anos deveria ser deprimente. Todos
que tiverem interesse e atitude em relação a algo estão em boa hora, poderão
aprender, treinar e tornar-se especialistas independentemente da idade. Se você
é dessas pessoas que se dedicaram durante a vida a uma profissão com a qual
viveram relativamente bem, mas ficaram com o desejo de estudar Antropologia,
História, Exatas, Artes Plásticas ou o que for, pode começar agora. Não há
limite de idade nem de tempo para o saber.
Não deixe que sua
idade o limite quando seu cérebro está preparado para tudo. A mente se renova
constantemente graças à plasticidade neuronal.
Até há pouco tempo pensava-se que modificar e
automatizar um hábito exigia 21 dias. Otimismo demais! Um estudo recente de Jane Wardle, do University
College de Londres, publicado no European Journal of Social Psychology, afirma
que para transformar um novo objetivo ou atividade em algo automático, de tal
forma que não tenhamos de ter força de vontade, precisamos de 66 dias.
Sinceramente, tanto
faz se forem 21 ou 66! O interessante é que somos capazes de aprender, treinar
e modificar o que desejarmos. O número de dias é relativo. Depende de fatores
como insistência, perseverança, habilidades, das variáveis psicológicas da
personalidade e do interesse. A mudança está em torno de dois meses e pouco. O
que são dois meses no ciclo de nossa vida? Nada. Esse tempo é necessário para
sermos capazes de fazer a mudança que desejamos. E isso nos torna livres e
poderosos.
Dez conselhos para começar o que se deseja:
1. Eleja seu propósito e o
transforme em seu projeto. É certo que, se fizer uma
lista, se dará conta de que tem muitas inquietações. Mas não podemos
mudar ou tentar fazer tudo de uma vez. Esqueça seu cérebro multitarefa e não
queira modificar tudo em um instante. Quando conseguir automatizar o primeiro,
passe ao segundo.
2. Reflita sobre sua meta. Se responder
às seguintes perguntas em relação a seu objetivo, seu compromisso com ele
aumentará: O que quero? Por quê? Para
quê? Com quê? O “com que” refere-se aos seus pontos fortes, valores e atitudes
para consegui-lo. Quando enfrentar algo novo, e tendo em vista que isso
implica em sair da zona de conforto, é recomendável ter a segurança e a
confiança de que está preparado, que tem capacidade e que irá conseguir. Mesmo
que seja difícil.
3. Faça com que ele caiba no seu
dia-a-dia. Não importa o que deseja iniciar, é preciso tempo. Se não abrir um
espaço em sua agenda e o transformar em rotina, o normal é que termine
postergando o que agora não faz parte de sua vida.
4. Ressalte seu objetivo. Tudo
aquilo que não faz parte de nossa ordem habitual é fácil de ser esquecido. Se
tem uma agenda, marque com caneta marca-texto. Se utiliza o alerta do celular,
crie um diário com o novo objetivo. Não abuse de sua memória e do “deveria
ter me lembrado”.
5. Cerque-se
de todo o necessário, assim não terá desculpas para não começar. Por
exemplo, se está de dieta, compre os alimentos do regime; se começou a praticar
esportes, busque a roupa que irá usar, ou se começou a tirar fotos, prepare o
material.
6. Comece
hoje. Não existe nenhum estudo com rigor científico que relacione a
segunda-feira ou o primeiro dia de janeiro exclusivamente com o começo de um
novo hábito. A terça-feira e a quinta são dias tão bons como qualquer outro.
Deixar tudo para a segunda é outra maneira de postergar e deixar que a preguiça
vença sua força de vontade. O melhor dia para começar algo é hoje.
7. Emocione-se.
As emoções avivam a lembrança, produzem bem-estar, e estar apaixonado pelo que
se faz fideliza o hábito. Busque como se sente, o que irá conseguir, como irá
melhorar sua vida pessoal e profissional. Aproveite e esteja presente.
8. Não escute a voz interior que lhe diz que está cansado, qual o sentido
disso e que a vida é muito curta para não ser aproveitada. Nosso cérebro
está muito treinado para criar desculpas e continuar na zona de conforto. Essa
voz interior é muito forte e pode ser muito convincente.
9. Seja disciplinado. Leve seu hábito a sério. E levá-lo a
sério não significa se tornar sério, mas que seja uma prioridade, algo para dedicar seu valioso tempo. E que tenha um
lugar especial em sua agenda.
10. Transforme seu novo hábito em sua filosofia de vida. Isso lhe dará
outra dimensão e calma. Não se trata de aprender algo agora, mas aproveitar e
saber que tem toda a vida para praticá-lo. Se, por exemplo, decidiu começar com
a atividade física, não se sinta mal se pular um dia. Tem amanhã, o dia depois
dele e toda a vida para fazê-lo. Não se trata de sentir-se culpado. Essa emoção
não agrega nada. Só é preciso ser disciplinado
e ter seriedade. Se for realmente
algo importante, amanhã voltará a fazê-lo. Não é tudo ou nada. É incorporar
algo bom para cada um e encaixá-lo na vida para aproveitar, não para que seja
mais um sofrimento no caso de não poder realizá-lo um dia.
Retirado da revista On-line El País, acesse o link na integra: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/07/01/eps/1435765575_333302.html. acessado em 14/03/2018
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