Noticias e informações: Liberdade religiosa?
http://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/curitiba/intolerancia-religiosa-toma-conta-do-brasil/
VOCÊ SABE O QUE É ESTADO LAICO?
No mundo
inteiro, o ideal do Estado laico gera
polêmicas. Nos últimos anos, foram registrados diversos casos em que a liberdade
religiosa se chocou com a ideia de laicismo, gerando protestos.
Ocorreu na França, com a proibição do uso do véu, na Alemanha, com a proibição de freiras de usarem hábito em escolas e
repartições públicas e também aqui no Brasil, onde foi discutida a questão
da presença de crucifixos em repartições públicas, entre outros
assuntos.
Se
preferir, ouça nosso episódio de podcast sobre esse assunto!
O laicismo é uma doutrina que defende que a religião
não deve ter influência nos assuntos de Estado. Essa ideia foi responsável pela
separação moderna entre a Igreja e o Estado e ganhou força com a Revolução Francesa (1789-1799).
Portanto, podemos dizer que o Estado laico nasce com a Revolução Francesa e que
a França é a mãe do laicismo.
POSIÇÕES
DO ESTADO EM RELAÇÃO À RELIGIÃO
Estado confessional
Estado teocrático
Estado ateu
E O BRASIL?
O
Brasil é o maior país católico do mundo, com uma estimativa de 127 milhões de
fiéis, o que equivale a 65% da população do país e aproximadamente 12% dos
católicos no mundo (dados de 2013 do IBGE). Mesmo com maioria católica, o país é oficialmente um Estado laico, ou seja, adota uma posição neutra no campo religioso,
busca a imparcialidade nesses assuntos e não apoiando, nem discrimina nenhuma
religião.
Polêmica: o caso dos crucifixos em
repartições públicas
A bancada evangélica
CONCLUSÃO
Liberdade religiosa?
20 de outubro de 2017
O Disk 100,
telefone da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, recebeu
759 telefonemas, no ano passado, denunciando casos de discriminação religiosa
no Brasil. Destes, 14 vieram do Paraná. E o estado que mais teve denúncias foi
São Paulo, com 105 telefonemas. Todas relatavam algum tipo de preconceito
(quando as pessoas agem de forma não amigável) ou até mesmo de intolerância,
quando o preconceito chega à violência verbal, física ou moral.
A Constituição
Federal determina que o Brasil é um estado laico (neutro em relação à
religiosidade) e dá às pessoas a liberdade de crença e culto. Portanto, cada um
tem o direito de escolher qual religião deseja seguir (ou se quer ou não seguir
alguma) e de ser respeitada pela opção que escolheu. Caso contrário, a agressor
pode responder por crime de ódio (lei 7.716/89), pegar de um a três anos de
cadeia e ainda pagar uma multa, cujo valor será determinado pelo juiz, conforme
a gravidade da ofensa.
Números
As denúncias ao
Disk 100 têm aumentado desde 2011 (início do serviço) e 2016 foi o ano recorde.
Nos telefonemas, nem sempre é possível levantar qual é a religião das vítimas.
Mas, entre as que foram triadas, no ano passado, verificou-se que é a Umbanda,
seguida pelo Candomblé, as religiões mais discriminadas no Brasil.
Na grande maioria
dos casos, conforme o Disk 100, o autor da atitude discriminatória é vizinho da
vítima. Depois disso, porém em escala bem menor, vêm os irmãos, os pais, os
professores, os familiares e os diretores de escolas. E a maioria dos casos
ocorreu na casa da própria vítima.
Passeata
Para alertar as
pessoas contra a intolerância religiosa, uma passeata será feita em Curitiba (e
simultaneamente em cidades de outros 10 estados brasileiros), no próximo
domingo (22), a partir das 14h na Praça Tiradentes. O evento está sendo
organizado pelo Facebook (Passeata Contra Intolerância Religiosa PR/Curitiba) e
convida pessoas de todas as religiões a participarem. Para discutir o tema, a
Tribuna convidou representantes de quatro religiões diferentes, para contarem o
que já sofreram, o que pensam e o que aconselham aos adeptos de suas religiões.
Pai
André de Xangô – Umbanda
André Moraes é pai
de santo há 28 anos. Há 11 possui seu próprio terreiro, o Tio
Antônio, no bairro Portão, em Curitiba, depois de ter atuado por 17 anos no
terreiro Pai Maneco, o maior de Curitiba. Logo que se mudou para o Portão,
sofreu represália dos vizinhos, que montaram um abaixo-assinado dizendo-se
incomodados com o terreiro. ‘Resolvi bater na porta de cada um. Dos mais de 20
que assinaram, sobraram três na lista. Percebi que era preconceito com a
religião quando vi que tinha vizinho que morava a duas, três quadras daqui, e o
barulho sequer chegava lá‘, relatou André, que quando era proprietário de uma
confecção de uniformes, perdeu uma encomenda para uma igreja evangélica, depois
que os fiéis descobriram que ele era umbandista.
Não para por aí.
Alguns motoristas de Uber, chamados para buscar filhos do terreiro, foram
embora quando os viram saindo de lá com as vestes brancas típicas da religião.
‘Não é uma passeata ou canetada que vai acabar com o preconceito. Mas é urgente
que as pessoas aprendam a respeitar qualquer religião‘, diz André.
Pastor
David – Evangélico
David Mateus Alves
é pastor da igreja evangélica Assembleia de Deus, Ministério de Madureira. Ele
relata que os pastores, em geral, sofrem preconceito. ‘Não podemos ter um carro
novo ou construir uma casa que as pessoas já chamam o pastor de ladrão. Mas como
qualquer trabalhador, temos um salário e construímos o patrimônio conforme ele.
Um padre compra um carro novo ninguém fala nada. Se um pastor anda de carro
novo tá roubando dinheiro da igreja. Entende o preconceito?‘, questiona. E os
fiéis também relatam diversas situações de preconceito por terem optado pela
igreja.
Mas a
discriminação chegou à intolerância, há algumas semanas, em Brasília (DF). Um
templo foi demolido pelo governo local, porque estaria construído numa área
irregular. ‘Mas ao redor há várias outras construções irregulares. Por que
derrubaram só a igreja? Não deram nenhuma notificação prévia. Chegaram e
derrubaram. Não é intolerância?‘, questiona.
Bispo
Amilton – Catolicismo
A igreja Católica
também sofre ataques de ódio, principalmente contra suas imagens e seus
sacramentos. Dom Amilton Manoel da Silva, bispo auxiliar de Curitiba, conta que
são frequentes relatos e invasão às igrejas, conduzidas por grupos contrários à
fé católica, que quebram as imagens e profanam os sacrários, ou seja, retiram
hóstias e as destroem. ‘São grupos fundamentalistas (de várias religiões) que
não conhecem nossos ritos, nossa fé, e levam o ódio ao extremo. Todos tem o
direito de discordar e defender uma religião. Mas respeito exige escuta e
diálogo. Esses grupos são muito fechados e não estão abertos ao diálogo‘,
lamenta o bispo.
Ele mostra que, há
algum tempo, a igreja católica está aberta ao ecumenismo, ou seja, a dialogar
com outras religiões para conhecê-las e respeitá-las. ‘As religiões têm muito
em comum, que é unir o humano ao divino, pregar o amor e o bem estar. O ódio é
incompatível com qualquer religião‘, mostra ele.
Gamal
Oumairi – Muçulmano
Desde o ataque às
Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 2002, a comunidade muçulmana em todo o
mundo vem sofrendo ataques por parte de pessoas que sequer conhecem o islamismo
e confundem uma minoria extremista aos demais muçulmanos. ‘O brasileiro não tem
conhecimento, não tem leitura. Então acabam associando ações terroristas ao
islamismo‘, lamenta Gamal Oumairi, diretor religioso da Sociedade Beneficente
Muçulmana no Paraná. O desconhecimento já levou ao ódio contra os muçulmanos em
Curitiba. As mulheres são as maiores vítimas, que por usarem o véu cobrindo o
corpo, são facilmente identificadas. Algumas delas já levaram pedradas, cuspes,
banho de cerveja e frequentemente ouvem coisas desagradáveis, como
‘terrorista‘, ‘mulher bomba‘, etc.
‘Nós, muçulmanos,
carregamos a paz em nossos valores. A palavra Islam, entre outras coisas,
significa paz. Não nos sentimos representados pelo Estado Islâmico (grupo
terrorista que leva certos conceitos ao extremo e comete atentados, dizendo que
é em nome da religião). Nós pregamos a tolerância, o diálogo. Existem várias
formas de se buscar Deus. Assim como várias outras religiões, o islamismo é uma
delas‘, mostra Gamal.
retidado de:
http://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/curitiba/intolerancia-religiosa-toma-conta-do-brasil/ acessado em 24/03/2018.
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VOCÊ SABE O QUE É ESTADO LAICO?
Afinal,
o que significa um Estado ser laico? Vamos apresentar esse significado, as
origens históricas do laicismo e como o Brasil se apresenta dentro deste
contexto.
CONCEITO
Um Estado é considerado
laico quando promove oficialmente a separação entre Estado e religião. A partir
da ideia de laicidade, o Estado não permitiria a interferência de
correntes religiosas em assuntos estatais, nem privilegiaria uma ou algumas religiões
sobre as demais. O Estado laico trata todos os
seus cidadãos igualmente, independentemente de sua escolha religiosa,
e não deve dar preferência a indivíduos de certa religião.
O Estado também deve
garantir e proteger a liberdade religiosa de cada cidadão, evitando
que grupos religiosos exerçam interferência em questões políticas. Por
outro lado, isso não significa dizer que o Estado é ateu,
ou agnóstico. A descrença religiosa é tratada da mesma forma que os
diversos tipos de crença.
HISTÓRIA DO ESTADO LAICO
Quadro
de Eugène Lacroix que representa revolução francesa.
Nos anos que se seguiram
à revolução, o Estado francês tomou medidas em direção ao laicismo propriamente
dito.
·
1790: todos
os bens da Igreja foram nacionalizados;
·
1801: a
Igreja passou para a tutela do Estado;
·
1882: o
governo determina que o sistema de ensino público deve ser laico;
·
1905: a
França se tornou um Estado Laico, separando definitivamente Estado e Igreja e
garantindo a liberdade filosófica e religiosa;
·
2004: entra
em vigor uma lei que proíbe vestes e símbolos religiosos em quaisquer
estabelecimentos de ensino.
POSIÇÕES
DO ESTADO EM RELAÇÃO À RELIGIÃO
Apesar de a laicidade
ser adotada em diversos países mundo afora (alguns exemplos são Estados Unidos,
Japão, Canadá, Áustria e África do Sul), ainda existem outras formas de relação
entre Estado e religião. Abaixo, relacionamos algumas delas:
Estado confessional
O Estado confessional é
aquele que adota oficialmente uma ou mais religiões. Existe influência
religiosa nas decisões do Estado, mas o poder secular predomina. São exemplos
de Estados confessionais:
·
Reino Unido: a Inglaterra, maior nação do país, adota o
cristianismo anglicano como religião oficial. Bispos anglicanos têm direito a
26 vagas na Câmara dos Lordes (equivalente ao nosso Senado).
Na prática, é o primeiro-ministro e a Câmara dos Comuns que concentram o
poder político;
·
Dinamarca: o Estado dinamarquês adota o cristianismo
luterano como sua religião. Na prática, há ampla liberdade religiosa no país,
onde vivem muitos imigrantes muçulmanos;
·
Butão: a constituição do país estabelece o budismo
tibetano como religião oficial. Essa nação asiática garante liberdade
religiosa, mas tem colocado limites a práticas de outras religiões (como
atividades missionárias e construção de templos);
·
Arábia Saudita (islamismo): adota oficialmente o Islã e proíbe a
prática de qualquer outra religião. Todos os cidadãos sauditas devem professar
a fé islâmica, sob pena de serem executados pelo crime de apostasia.
Estado teocrático
Nas teocracias, as
decisões políticas e jurídicas passam pelas regras da religião oficial adotada.
Em países teocráticos, a religião pode exercer o poder político de forma
direta, quando membros do próprio clero têm cargos públicos, ou de forma
indireta, quando as decisões dos governantes e juízes (não religiosos) são
controladas pelo clero.
Exemplos de Estados
teocráticos são: o Irã, que adota
o islamismo como religião oficial e possui um aiatolá como chefe de Estado; e o
Vaticano, o país-sede da Igreja Católica, cujo chefe de Estado é o próprio
papa.
Estado ateu
Um Estado ateu é
caracterizado pela proibição ou perseguição a práticas religiosas. O Estado não
apenas se separa da religião, mas a combate. Exemplos de ateísmo de Estado
podem ser encontrados em experiências socialistas ou comunistas do
século XX: União Soviética (URSS), Cuba, China, Coreia do Norte,
Camboja, entre outros.
Hoje em dia, parte
desses países adota a liberdade religiosa e o secularismo: a Rússia é um país
laico; a China garante a liberdade de crença, apesar
de permitir apenas um conjunto de religiões registradas; e a Coreia
do Norte também permite oficialmente a liberdade religiosa, apesar de
que cerca de 64% da população norte-coreana não professa nenhuma religião,
segundo David Alton.
E O BRASIL?
Pleno
do Supremo Tribunal Federal ostenta um crucifixo, símbolo religioso católico.
Foto: STF.
Apesar de citar Deus no
preâmbulo, a Constituição
Federal afirma no artigo 19, inciso I:
“É vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes
relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração
de interesse público.”
Esse trecho de nossa
Constituição determina, portanto, que o Estado brasileiro não pode se
manifestar religiosamente. Também vale notar que o artigo 5º, inciso VI
também diz:
“É inviolável a liberdade de consciência e de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida,
na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”
Dessa forma, a liberdade
religiosa na vida privada está completamente mantida, desde que devidamente
separada do Estado.
Em 2012, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello
fez afirmações nesse sentido em sua decisão sobre
o aborto de anencéfalos. Ele afirmou que “os dogmas de fé não podem determinar o conteúdo dos atos
estatais.” Também sustentou que: “as concepções morais
religiosas — unânimes, majoritárias ou minoritárias — não podem guiar as
decisões de Estado, devendo, portanto, se limitar às esferas privadas.”
Polêmica: o caso dos crucifixos em
repartições públicas
Uma
das principais polêmicas em relação à laicidade do Estado brasileiro é o uso de
símbolos religiosos, como crucifixos, em repartições públicas. De acordo com
críticos, essa prática fere os princípios do Estado laico porque, uma vez que
instituições públicas ostentam símbolos de uma religião, estariam
privilegiando-a em detrimento das demais crenças (ou descrenças).
A controvérsia já
motivou decisões como a do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS),
que determinou a retirada de crucifixos de todos os
prédios da Justiça gaúcha, em 2012. Mas a decisão foi revertida mais tarde pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), que entendeu que a colocação dos crucifixos “não exclui ou diminui a
garantia dos que praticam outras crenças, também não afeta o Estado laico,
porque não induz nenhum indivíduo a adotar qualquer tipo de religião”.
Outros pontos em que a
laicidade não estaria sendo respeitada são a frase “Deus seja louvado”,
imprimida no canto das notas da moeda oficial do país, o real, e a
expressão “sob proteção de Deus” inserida no preâmbulo da Constituição
Federal.
A bancada evangélica
Além da presença de
referências religiosas em instituições estatais, existe preocupação em relação
ao crescimento do grupo de deputados
federais e senadores evangélicos.
A bancada evangélica se opõe a pautas como descriminalização do aborto, da eutanásia e
leis contra a discriminação contra homossexuais e transexuais,
enquanto defendem projetos como o Estatuto
da Família, que reconhece como único núcleo familiar a união entre
um homem e uma mulher, e a redução da maioridade penal para 16 anos em casos de crimes
hediondos.
O número de evangélicos
apenas cresce no país e isso se refletiu na composição do Congresso. De acordo
com dados da Câmara, a bancada evangélica teria
cerca de 200 integrantes (198 deputados, incluindo alguns que
não estão no exercício do mandato, e 4 senadores).
A presença de um
amplo grupo identificado com correntes religiosas específicas é vista
como um desafio para a laicidade do Estado, uma vez que muitas das pautas
citadas possuem relação com as convicções religiosas dos parlamentares (a ideia
de família apenas como união entre homem e mulher, por exemplo).
A bancada também não é
unanimidade entre os próprios evangélicos. Teólogos ouvidos no 10º seminário LGBT na Câmara
entendem que o grupo é fundamentalista, porque busca impor suas convicções
morais a toda a sociedade, além de fazer proselitismo religioso (ou seja,
promover esforços para converter pessoas para sua religião).
CONCLUSÃO
Como você pode perceber,
a laicidade é um tema que gera muitas controvérsias, pois implica a manutenção
de um equilíbrio tênue entre liberdade de crença e imparcialidade do Estado em
relação à religião. Esse equilíbrio é delicado, mas tem como benefício esperado
um Estado que respeita a diversidade de crença existente dentro da população. E
você, como enxerga a questão da laicidade? Deixe sua opinião!
E você, acha fundamental a garantia do Estado Laico? Deixe seu
comentário!
Retirado de:
http://www.politize.com.br/estado-laico-o-que-e/ acessado em: 24/03/2018.
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